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quarta-feira, 31 de março de 2010

De casa nova, projeto social tem a chance de transformar mais vidas através do judô

Liderado pelo medalhista olímpico Flávio Canto, Instituto Reação pretende dobrar número de crianças beneficiadas no Complexo Esportivo da Rocinha

Lydia Gismondi Rio de Janeiro

Professor Aurimar conversa com as crianças no início da aula no Complexo Esportivo da Rocinha

O tatame é emprestado, a tinta é fresca e as salas ainda estão vazias. Nenhum problema para as crianças do Instituto Reação que, até pouco tempo, treinavam judô em uma sala apertada e, antes disso, sequer imaginavam ter a chance de praticar um esporte algum dia. Embora não esteja completamente equipado, o projeto social liderado pelo judoca medalhista olímpico Flávio Canto há dez anos ganhou um novo lar no Rio de Janeiro. Agora instalado no Complexo Esportivo da Rocinha, obra do Governo Federal que faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a expectativa é que mais de 400 jovens possam ter suas vidas transformadas através do esporte.

Confira a galeria de fotos do Instituto Reação na Rocinha!

A aula começa. Um grupo de crianças de 8 a 12 anos se ajoelha no tatame para ouvir atentamente as palavras do professor que introduzem a parte prática do treinamento. Atrasado, um dos “futuros lutadores” empurra uma coleguinha com a intenção de se posicionar bem no meio da turma. O treinador Aurimar Mendes interrompe a aula e, depois de um discurso baseado em valores morais, convence o menino a assumir o erro, pedir desculpas e selar a paz antes da luta.

- No esporte, o maior passo que um aluno meu pode dar é chegar às Olimpíadas. Mas o passo mais importante, que vai muito além disso, é ajudar a torná-lo um cidadão. É trabalhoso, mas é muito compensador – disse o professor.

Aos 24 anos, Aurimar tenta passar para os seus alunos o que aprendeu nos últimos nove anos com Flávio Canto. Também de origem humilde, morador da Rocinha, ele é um exemplo de que, com oportunidades, é possível mudar o próprio destino. Passou de aluno a professor do Instituto Reação e, através do projeto, ano que vem se forma no curso de Educação Física pela Universidade Gama Filho.

João Lucas é aluno do Reação há sete anos

João Lucas Barreto, de 16 anos, também soube agarrar a oportunidade. Desde os 9 anos no Reação, o menino tímido e dedicado ganhou a chance de estudar na Escola Parque, uma das mais caras do Rio de Janeiro, e ainda frequentar um curso de inglês.

- A oportunidade bate uma ou duas vezes na sua porta. Se você não aproveitar, ela vai embora como tudo na vida. Quem sabe aproveitar ou não é a diferença. Como eu estou aqui, tem muita gente lá fora que poderia estar – ensinou João, que pretende seguir os passos de Flávio Canto no esporte.

Esporte aliado à educação

Após o judô, crianças têm aulas de leitura e artes

Educar através do esporte sempre foi o principal objetivo de Flávio Canto desde que idealizou o Instituto Reação, que hoje já conta com outros três polos além da Rocinha (Cidade de Deus, Pequena Cruzada e Tupiacanga). Pensando nisso, resolveu aliar as aulas de judô a outras disciplinas.

- O programa é dividido em quatro pilares: Oficina da Palavra; Oficina do Número, Tecnologia e Cotidiano; e Ciências e Artes. Desses, o único pilar que ainda não foi implementado é a Oficina do Número. O judô funciona como a nossa porta de entrada, o nosso carro-chefe. Mas para eles fazerem o judô têm que participar também do programa de educação – explicou Flávio Canto.

Na nova casa, a ideia é que o polo da Rocinha dobre a quantidade de beneficiados. Com as salas e o enorme dojô de 300m², que ocupam três andares do Complexo Esportivo da Rocinha, Flávio Canto espera atender de imediato 400 pessoas e aumentar este número no futuro. Antes, o projeto ficava na mesma rua, mas em uma sala de um prédio da prefeitura.

Lydia Gismondi/GLOBOESPORTE.COM

Enorme dojô de 300m² é um dos destaques da nova casa do Instituto Reação, na Rocinha

- Aqui a gente pode colocar mil alunos. Atualmente, temos 250 e vamos passar agora para 400. Esse espaço é melhor do que eu sonhei. É maravilhoso. A gente só tem a agradecer por ter ganhado esse espaço. E a nossa dívida com quem nos ofereceu esse privilégio é transformar o maior número de vidas possível aqui dentro.

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